Felicidade. É uma palavrinha grande e nojenta.
Cobiçadíssima! Daí a facilidade com que escorrega feito dinheiro em rua com
brisa.
Flor estava ali, perdendo-se em pensamentos que não a
levariam a nada, a não ser... Claro! Pensando como ser feliz, ela estava
perdendo tempo presente, a hora de ser feliz.
“Minha loucura é a regularidade”, pensou. A minha
regularidade, o meu padrão. Achar alguém que aceitasse sua loucura. Leu acima
de si mesma, numa ideia lampejada, fatal. Queria florir-se e ser amada por
desvairar-se. Em plena terça-feira de um carnaval vazio, eis que o tarot
virtual lhe apresentava a carta que sempre sempre a assoprava. "As pessoas
falam porque estão viciadas em certezas e seguranças", apregoava. Sim. O
desconhecido, que era um encanto, sussurrou ao ouvido. Sentiu sob uns pés
empoeirados de casa, um abismo, no qual quis pular, afundar, sem ter ar,
flutuar. "Ponha sua vida em movimento", ordenava a leitura da carta.
Que carta! Uma mensagem limpa, clara e louca. A alegria era a vigília da
loucura. Abriu o bloquinho onde escrevia momentos, ali, perto da máquina
interligada. Pontuou.
Música - Baladado louco // Mutantes
Filme - O céu de Suely
Cor - laranja
Encanto - ele...
E parou ali. Por que tinha um coração assim pregador? Por
quê? Pensou em ligar. Pensou em pensar. Descansou. Foi deitar e teve ele de
encanto. Satisfeita, voltou para a rede. Aquela rede com milhares, e sem
nenhum. “Ser feliz até onde der”, leu numa imagem boba, que logo desceu céu
abaixo. Então era até acolá. Amanhã acordaria mais louca, teve certeza. Só
restava esperar.