sábado, 22 de setembro de 2012

[Mônica Velour] Quem procura...


Por algum motivo, Mônica Velour – atriz pornô dos anos 80 - permeia as lembranças eróticas de Tobe. Ele, um adolescente de 17 anos, parece estar deslocado de seu tempo. Gosta de filmes e músicas da primeira metade do século passado. O classificam de “nerd”. Fotografia e trilha sonora evidenciam o gosto musical de passado do rapaz. Esse é o contexto de Meet Mônica Velour, de Keith Bearden.

Tobe vive com o avô. Um conflito bigeracional é facilmente percebido. O avô lhe presenteia com o furgão, dotado de um jocoso cachorro quente gigante no teto.  Para o patriarca da pequena família, é a oportunidade de empreendedorismo para o jovem. Para o neto, uma grande piada. Tobe quer o presente padrão, um carro. Sinônimo de liberdade e poderio masculino.

Após o aniversário, ele resolve vender o presente. Contudo, o interessado na compra do furgão mora em outra cidade, distante dali. Mesmo local, no qual, por coincidência, estreará um show da grande estrela pornô, Velour. É a chance de Tobe conhecê-la. Parte para lá.

Apesar de o personagem central ser um homem, adolescente, na busca por sua identidade, podemos levantar reflexões sobre a personagem que dá nome à trama. No show, Tobe discute com um rapaz que chama Mônica de vovozinha. Gerofobia. As mulheres são encaradas pelo corpo, e, depois de uma certa idade, a estética da juventude cega os olhos da maioria para a sensualidade que ela ainda pode, sim, possuir.

Mônica é expulsa do show. Uma das dançarinas da casa fala da questão da defesa dos direitos que elas possuem. “Aquele garoto tava fazendo o que você devia tá fazendo”, dirige-se ao pequeno homem que expulsa Velour. “Só porque a gente trabalha nessa espelunca, não significa que temos que aguentar esses porcos. Temos direitos”, continua. “Eu vou te dar os seus direitos, sim. Um de direita, um de esquerda, se não sair da minha frente”, ameaça o homem. Violência contra a mulher.

“Por favor, por favor, eu tenho uma filha”, grita Mônica, ao ser expulsa. Julgamento moral. Bem claro nas cenas em que o ex-marido diz que ela perderá, definitivamente, a guarda da filha. “Striper ganha causa”, chacoteia o arrogante homem ao evidenciar que o júri não iria conceder a guarda da menina pela profissão.

“Poxa, vida! A gente transa com algumas centenas de homens e o mundo inteiro fica contra a gente”, desabafa Mônica. Porque ser atriz pornô é ruim? Como Tool diz, ela levou “animação” à várias pessoas.  Sexo é tão normal, que todxs fazemos/faremos – a menos que optemos por ser assexuadxs. E, mesmo assim, há toda uma carga negativa atribuída à sexualidade. E, principalmente, à/da mulher. Que, em muitos vídeos é objeto, fetiche, apenas. Pornografia é sinônimo de sujeira. Contudo, raros são os adultos, mulheres e homens, que nunca acessaram ou viram um filme pornô. E você?

O problema está na moralização do debate. E como essa moralização recai sobre as as profissionais femininas. “A realidade é que eu, e todas as outras mulheres do mundo, temos nossos próprios pensamentos”. A frase, que, mesmo óbvia, alerta para uma conceituação machista que, por vezes, se faz da mulher.

O envolvimento de uma mulher mais velha com um rapaz. A cena de amor de um virgem com a ex-atriz pornô. A experiência sexual, geralmente atribuída ao sexo masculino, está com a mulher. Três pontos que demonstram a inversão de papéis tradicionais. Mônica ensina Tobe. O homem não detém a técnica. A mulher não é amor. “E sabe de uma coisa? Você é como os outros”, Mônica acusa Tobe. Ela generaliza e solta. “Passa a vida inteira procurando por uma máquina de sexo selvagem e, quando encontra, tudo o que quer fazer, é transformá-la numa dona de casa”.

Meet Mônica Velour não é uma pérola do cinema norte-americano. Muito menos, uma bela indicação para quem gosta de filmes permeados de diálogos marcantes. Contudo, as tags que ele traz podem ser desenvolvidas. É uma boa pedida para um sábado banal.

:::Meet Mônica Velour
Gênero: Comédia, Drama e Romance
Duração: 98 min.
Ano: 2011


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