quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tenho tristezas alegres...


“Caminhos não há, mas os pés na grama os inventarão...”. A grama debaixo do meu solado é tão verde que me deixa anêmica de refletir. Gramas verdes combinam com flores mal criadas. Porque tenho tanta aversão à luz, que me faz medo só de pensar num jantar-fotossíntese. Enquanto não sei por que flores eu vou, enfeito vestidos e cabelos com elas.


Tenho tristezas alegres, valsas militantes, limpezas pesadas. Só dedico armários inteiros à traças por que comem elas o que a pouco me vestiu. Pedaço de mim que não preciso, roupa. Adoro as orquídeas por sua falsidade. Podia até pisar nelas por isso. Mas orquídeas são flores de vaso. Pés longe alcançam vasos. E jamais pisaria beleza.


Cabisbaixas, parecem esperar um amor perfeito, um mal me quer, um copo de leite. Ficam balançando com bocas cansadas, meio sedentas. São caras sem olhos. Um dia desses, vi orquídeas com olhos. Mal senti meu coração. Foi quando olhos bateram asas e voaram pela noite fria. Nunca vi olhos voando. Perdi aqueles olhos de vista e lá ficou a orquídea me dando língua. Outras coisas combinam com flores mal criadas.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Amar e amar e amar...


Amo e vejo que amo na poesia de umas coisas chatas. Chatas como essa lágrima teimosa que aprisiono no mesmo olho que te vê. Vê e não pode te sorrir tão fartamente, como quem diz vem e me abarca com o teu. Amo. Descubro e esqueço que te amo, porque te perdi por algum pedaço de vida mofado. E tem umas veias que vivem saltando, como se me cutucassem pra eu te chamar. Amo e não posso ser mais autosuficiente sentimentalmente como pensei que pudesse.

Ando querendo transformar aindas em agoras. Ando querendo teu queixo, teu dente, teu indicador. Lembro de quando era criança e olhava a cacimba no fundo do quintal. Tinha medo daquele profundo, daquele escuro, tinha medo de cair, de me afogar no lodo, sem ar nem esperança. Me eras tão inocente e furaste meu peito. Pensei que cicatrizes assim só existissem em letras de músicas bregas. Às vezes abstraio esse amor e penso que ele morreu, mas no fundo está lá, só assistindo TV, abobalhado. Me assistindo viver, de parada em parada, sucessões, deixando eu me enganar. Deixando eu acreditar que o novo já vem, quando na verdade, meu desconhecer de certezas é a vontade do velho renovado.

Teus olhos são a cacimba do quintal da minha vida. E já fico aqui me afogando, lembrando deles, serenos demais que são. Preciso amar e amar, convulsivamente. Sempre fui esse fraco canto da pessoa humana. Sempre não me contive em emotividades. Até quando necessitei da razão, precisava estar só.

Não quero mais preencher um lugar. Não quero momentos intensos seguidos de profundos vazios. Não quero mais variar pensamentos. Quero completude. Quero uma razão que acarinhe a minha, que a bote pra dormir e a acorde com beijos ardentes e ternos. Quero um eu para depositar-me. Se amar é perder-se, confesso que amo e só quero um. Permaneço dona de minha vontade, no entanto, meu amor é, em pedaços, teu. Quero ser livre dentro de ti...

sábado, 2 de julho de 2011

Me dá um pincel preu pintar o mundo...


Já fui de preto no branco. Já cai dum mundinho cor-de-rosa. Já descobri que o tudo azul só é feliz em letra de música. Ando que me encarno de vermelho, posto que antes amei anis, púrpuras, turquesas. Hoje caibo bem bem no rubro, seja nos lábios, seja no drama, seja na luta. Ando me atando aos roxos pós-prazer. Brigo com brancos extratores e os afasto para amar o perfeito negro. Me atraem certos amarelos de flores, sandálias, partidos. Mas é na vastidão de um belo colorido que eu alegro meus olhinhos e os torno mais gentis.


Ora, se as cores, como a gente que sofre, quando estão sós, são mais amargas, monótonas. Juntas, entorpecem, preenchem os olhos e trazem à tona instantes, reflexos. Revolucionam vistas e mentes. Chamam. Não há olhar, que triste, não careça de linhas ou formas distintas em cor. Emaranhados de tons e matizes são a pureza do ser. É como se as coisas fossem mais vivas, quando têm cores, e não cor.


Ode a emancipação sortida de nuances, que pintam brilhos monocromáticos em retinas industriais. Mais gente encarnando bombons nas ruas seria felicidade. Fitilhos levados ao vento, jardins especiais de diversidade. Policromia faz bem a saúde. Pelo menos, não deixa a vida tão chata. Ou há sorriso que se segure diante da magia de um misturado de cores? Se assim fosse, os palhaços andariam em monocolor.


Já fui de preto no branco, hoje não mais. Espalho a policromia, porém confesso que tenho quedas abismais pelo encarnado. Faz gosto.