sábado, 12 de maio de 2012

Dia de mãe

Eu acho isso de datas comemorativas meio uó e tal. Mas para além da mercantilização dos sentimentos, ao menos serve para parar e refletir sobre certas coisas - ou não. É um enxame medonho de "Parabéns, mamãe!", "Feliz Dia das Mães", e blá blá blá. Embora todxs saibamos que mãe - e pai também - são pessoas especiais pelo carinho e dedicação que tem conosco. Essa instituição “mãe”, que é atribuída à mulher, é valor social. Sim, eu sei, não é só valor social. Porém, porque a mãe cuida mais? Nós, xs filhxs, quase sempre somos meio ingratxs. E me incluo bem muito.

Sim, sim. Falar da minha mãe, não é fácil. E nem vou postar foto dela, porque ela não gosta. Tipo, eu começo a escrever, ai vem logo aquele chororô. Num sei por quê cargas d’água [correm no rosto]. Costumam chamar emoção. É que a minha é tão boa e faz tanto e tanto e tanto por mim, que eu fico me sentindo bem como sem retribuir. Não digo boa – oh! aquela candura de pessoa, dotada de toda a bondade do mundo. Não, claro que não, vale ressaltar. Afinal, ela é humana, como todo mundo. Deixemos as idealizações para lá.

Houve até um tempo em que eu pensei que ela não gostasse mais de mim, logo quando meu irmão nasceu. Contudo, o tempo mostrou que ela se resigna e me ama muito. Mas, porra! Me diz porque tem que ser assim? Ela deveria deixar a gente sofrer mais, não ser tão forte e apoiadora, não fazer tanto as nossas vontades, não nos dar tanto, dizer mais nãos... Sim, somos ingratxs. Deve ser culpa também do patriarcado, que molda até esse amor demais. Mermã/o... Eu num digo é nada.

Desculpem o desabafo. Detesto essas coisas de diári(nh)o. Os meus não duravam mais do que dez folhas. Tava precisando. Me ventilou. Aí, vem essa época de um dia, solamente um dia, com aquele clichê de que deveriam ser todos os dias. E não passa de clichê. Jáque no “todos os dias”, quede lembrar. E não escuta mais, porque ela sempre, sempre tem razão. Então só me lembro da música do Caetano, Coração Materno. Sempre lágrima. Foda. [Tá, tô mais brega que o normal. :P]

♪  ♪  ♪

Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sagrando da velha mãezinha
O pobre coração e volta a correr proclamando
Vitória, vitória tem minha paixão
Mais em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E a distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou
Magoou-se pobre filho meu
Vem buscar-me filho, aqui estou
Vem buscar-me que ainda sou teu!

♪  ♪  ♪


sábado, 5 de maio de 2012

O vidro de perfume – Mito




As pétalas agarravam compulsivamente seu ao redor. Seu corpo era frio e torneado. Belíssimo. Por gerações guardou odores intocáveis, sublimes. Recomposto, pertencera a mulheres comuns, mundanas, serenas. Fez-se vidro num fogo ardente, moldaram-no cheio de graça. Foi que assim que nasceu, recobriram seu corpo em choque, finíssimo, chiquérrimo, com pinceladas tocantes, emocionais. Reproduziram nele a arte de um homem que amava. E fora vermelho, até que perceberam que estava forte. E fora azul, até que perceberam que estava calmo. E fora branco, até que perceberam que estava nada. E fora de várias cores, e flores, e poesias. E não mais perceberam, seduziram-se. E assim ficou.

Morou naquele bordel encantado. Viu camas tremerem, mil homens passarem, mas era ele, somente ele que escutava pensamentos, que via olhos brilharem, escorrerem, que soprava felicidade ou conforto. Ficava enfeite, bibelô, contudo, era mais, bem mais. Era o orgulho lindeza de cada mão por que passou. Viu violências, amores, latência, viu trovões e chuviscar. Respeitou cada decote daquele, pela inteireza de caráter que viu no múltiplo querer /não querer estar ali. Respeitou cada choro depois das visitas. Respeitou toda luz que se apagou. Respeitou a verdade que só ele via e cresceu.

Se pudesse, imitaria a gente, derramando-se. Porém já suspirava  quando lhe borrifavam. E naquela hora, em que o tempo se fazia menino/momento, e dava tanta graça aos olhos fechados que recebiam o aroma, ele era felicidade. Vidro de perfume. Em meia idade, foi parar numa casa de família, sentia-se triste pela melancolia alheia, mais empertigada que a que vira por anos, sobre aquelas penteadeiras femininas. Quis quebrar-se naquela monotonia. Até que um gato, bem-vindo, peludo, fez sua vontade.