sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Queria...


Passou por lá. Não podia. Era necessário romper seus universos paralelos. Sua subjetividade poderia estar enganada. Ou encoberta por algum véu maligno. Parou. Tinha que voltar e tocar naqueles cacos. Sabia que ia se cortar naquele veneno todo. Mesmo assim foi. Fez. As pontas dos dedos feridas jorravam lenta e dolorosamente um sangue escarlate. Chateou-se. Não combinava com o tom que aplicara a pouco nos lábios. Sabia que o batom barato iria lhe decepcionar um dia desses. Esqueceu, e lembrou. A imagem era o que mais doia. Ver tudo ali no chão... Flor quebrara seu próprio vaso num esparramão com o duro e frio destino. Agora estava ali parada, procurando fincar suas raízes em qualquer palmo de terra. Queria a Reforma Agrária de seus pensamentos. Queria o assentamento do seu sentir. Queria. Mas era em vão. Inúltilmente tentou caminhar até a cozinha. Poderia abrir a geladeira e se acolher naquele frio de luz apagada, quase calor. Poderia se hidratar da forma tradicional. Regar-se. Com suco, água, ou alguns chuviscos de esquecimento. Queria. Era tarde demais praquilo. Sentou no sofá e esticou as pernas para pensar melhor. Talvez a circulação, ligada diretamente aos impulsos cerebrais, pudesse levar novos ânimos pelas varizes precoces. Os vasos sanguineos. Seu vaso_princípio rompera-se naquela batida intensa e ela despetalou-se. Bruscamente grupos inteiros de hemácias felizes percorreram suas artérias . Animou-se. Mesmo os vasos que quebram têm concerto. Ficam feios, desajeitados, tecnicamente infelizes. A ideia de trocar ainda não lhe agradava. Se era preciso, seria isso que iria fazer. Levantou e foi se aquecer na obscuridade do seu quarto. [continua]

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