segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Maria e os revivals que me provoca


Minha gente, escutar Maria Bethânia faz qualquer cicatriz estourar. Tenho que parar com esse negócio de estourar cicatrizes. Tenho que parar com esses repeats eternos. Tenho que parar de mascar cada palavra da canção como se fosse feita pra mim. Ê vida de amor e desamor que maltrata dedos em dedilhar reclamações contra a vida.

Porque é que esse piano fica cutucando minha alma? Porque é que o “você” é um rosto tão antigo e presente? Ia ficar rica, se o povo comprasse dúvidas. Dúvidas e lembranças doídas. “Você que já não diz pra mim, as coisas que eu preciso ouvir...” é tão geral e tão meu, que dá uma abismada no peito.

Fico traçando linhas cronológicas mentais. Estudar o passado é desbravador e desencorajante. Passados recentes não ganharam nota de passado mesmo. Queria quebrar um ursinho de gesso lilás, mas tem dinheiro dentro. Nem eu entendo o que penso. É o piano dedilhado por alguém de um passado que não me pertenceu, embalando meu dedilhar na página negra.

Fingir não entender é sempre a melhor saída. Só não é a mais honesta. As verdades são interpretativas e, assim sendo, vão dar sempre margem para que possamos fugir delas. Jogar pensamentos dispersos que se emendam só na minha subjetividade é meio ato de egoísmo, eu acho. Preciso urgentemente de uma subjetividade honesta. Ao menos para cicatrizar a minha.

Vou montar uma banquinha de escambo. Há de haver empreendedorismo nisso. Troco verdades andantes por gestos bobos, espaços de tempo por luzes de agora, vantagens de vida por alegrias mutantes. Perfeitamente justo, já que nos negócios costumam lidar com coisas que não existem. Me eximo dos lucros.

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