sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pela janela do ônibus


Quando a sua vida é uma confusão de pensamentos, as músicas ficam mais molhadas, as vidraças mais embaçadas, os sentimentos mais carcomidos. Fica aquele velho fone de ouvido tagarelando letras insuportavelmente apropriadas, enquanto você olha pela janela do ônibus, analisando uma correria de casas. Vazio. Você fica se imaginando num filme Ind-cult-bacaninha qualquer. E seu drama fica mais drama, sua tristeza mais tristeza.

Daí vem um batalhão bruto de lembranças, feito polícia em greve. Boom. Desce a primogênita, escorre e salga sua boca. Imunda. É aquela hora em que você queria um braço. Aquele braço. Aquele braço que te pede cafuné. Aquela hora em que uma flor seria a água mais doce de três dias de sede. E a vida passando. Lá fora.

Disseram que você tem um coração mudado. Então você acha que tem um coração abestado, que bate demais. Roga, sonega, implica com ele. Mas o sangue que corre ali é seu, e você nem se toca. Você está tão enclausurado em si, nessa coisa besta que chamam de alma, achando que a vida corre fora, corre, que não liga. E você lembra. Porra de memória. Tá ruim ser ser humano. Então você pensa que devia era ter nascido peixe. Só o filé, seria.

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