quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Farsa histórica, número de vida, dia de ócio, amor e mudança


Era 7 de setembro. Faltavam sete dias para o seu aniversário e, do fim de seus dezessete anos, decidiu que era dia de errar. Encontrou-se com o namoradinho, primeiro na vida, e fez dele primeiro naquilo que ele tanto pelejava conseguir.

Despediram-se dos amigos e caminharam naquelas ruas frias, ainda cheias de mato e casas bucólicas. Na cidade mocinha, assim como ela, trocava ternura com aquele seu primeiro homem. Tudo era nebuloso ao redor, menos o calor que emanava deles. O abraço do menino, que era quase meio metro mais alto que ela, a confortava rumo ao que sabia a esperar.

Desses jovens que se beijam loucamente em qualquer esquina da cidade, repetia hábitos, mas dessa vez, a esquina, ou mesmo um muro escuro, não seria suficiente para ocultar sua travessura.

Sabiam da existência daquela vilinha de casas, cuja construção ficara inacabada há alguns meses. E cujo mato aflorava dando ar de natureza aos tijolos cinzentos. Era naquilo que um dia poderia abrigar alguém, que escolheram recanto. A noite já despejava escuridão no lugar e por sua lembrança passou uma letra da música cantada na infância. Segurou-se para não pronunciar os versos “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não...”, quando o braço forte que tão bem conhecia a puxou para o que seria outro compartimento.

Estavam ali, sós, entre quatro quase paredes, altas o suficiente para escondê-los da rua e dos olhos passantes. Ali, em pé, beijavam-se e conversavam. Ele, insistentemente carinhoso, talvez a amasse, mas queria um amor concreto. Ela, relutante, desfazia suas investidas com medos confessados. O teto que tinham era de um preto bonito e intenso, respingado de brilhinhos, aos quais chamam estrelas. Vez em quando, encaravam a noite e tomavam banho de luar.

Foi numa tal hora que outros dois rostos, também tão jovens, pisaram mato e olharam para eles. “Tá ocupado”, riu-se o garoto, já saindo com a menina à mão. E do palpitar de coração mútuo voltou-se o silêncio. O casal não deixou de rir também. Esmagaram o constrangimento num beijo rouco e não tardaram a descobrir-se, juntos, sem pressa.

Ele se espantou por sua pele tão branca, tão branca de lua, e a amou. Ela provou coisa que nem sabia existir tão forte. E perdeu aquilo que ninguém devia guardar. Perdeu num abraço acalanto, num beijo torpor.

Apanhou roupas e arrependimentos, repensou-se. Refletiu como farsas históricas podem marcar dias de ócio para construir pontos de início, pontos de quebra de eus. Nunca escondera da mãe que se entregaria por amor, o que não era sinônimo de esperar por sacramentos que ela não pensava querer pra si. Desde então reformulou conceitos. Concluiu que o amor é sempre feito em destroços.

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