segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Porquês entre Beauvoir e Balzac
Ele jogava sal no seu amor. E ela, boba, chorava letras molhadas. Via bolhas coloridas e não sentia vontade de sorrir. Desenhava uma mandala e abominava seu próprio coração. Cruelmente sentia desfalecer esperanças, que não sabia por que cargas d’água ainda figuravam verdinhas. Já deveriam estar murchas, tristonhas. Aplicar-lhe iria a eutanásia bendita, se coragem tivesse pra tanto.
Um grito mudo e longo brotou-lhe do peito, saiu-lhe da boca cansada, assoprou o nada e estampou agruras em sua mente. Sentiu-se fatalista e breve. Sentia, sentia, esse era seu grande problema. Poderia romper-se sem dores ou prolongamentos de ilusões hiperbolizadas. Mas não. Ficava ali se carcomendo. Entregar-se iria ao pensar. Racionalizaria sentimentos, perderia bondades, negaria o necessário para a sua própria felicidade mal-grada.
“É tão fatigante detestar-se alguém que se ama!”, lembrou da cortante frase de Beauvoir. Mas não se considerava ainda uma mulher desiludida como no livro que lera há tempos. Ainda. Podia até ser a balzac-anamente mulher abandonada. Mas não se pode ser deixada por alguém que não se tem. Frustrava-se.
Como queria ouvir aquele “sois para mim a única mulher no mundo”. Mas não. Lembrou que a distância, dali a alguns dias, afastaria esses pensamentos permenorizadores de seu eu estúpido. Tentou se concentrar nas obrigações que a busca do futuro lhe impunha. Foi se questionar sobre os rumos de sua vida. Ai, como existir dá trabalho! Lembrou.
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