sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Varreduras sem fim


E já tinha varrido uns pedaços de pensamentos imbecis, caídos ali no quarto. Deixou de remoer hahahas. Queria uma tristeza menos pesada. Foi que lembrou que o querer é pouco caso pra quem fica paradinh@. Viu que tinha muitos bibelôs e todos olhavam pro nada. Viu que tinha muitas cores, mas nenhuma lhe ardia nos olhos. Viu e vendo, pensou que podia ousar, como já lhe dissera em quadradinhos, Alan Moore.

Tinha uma cortina de quarto, florida e gaiata, que ia e vinha, revelando lembranças que não queria ter pela frente. Podia se disfarçar de ameba, mas mesmo as amebas, criminalizadas que são, deviam sofrer por não saber o que eram, e não saber o que era saber. Enfim, no fundo delas, na sua assexualidade, incapazes de amor que eram, deviam sentir alguma coisa parecida com falta dessas coisas que a gente gosta e odeia.

Se tudo é só ponto de vista, então o nada é tudo, se eu quiser que seja, concluiu. E olhou pra cadela que vinha em seu encontro, olhos lindos, chocolate, focinho pedinte, afeto demonstrado no rabinho balançante. E viu pureza ali. Lembrou de São Francisco, lembrou dos laboratórios, lembrou de Madagáscar. Deixou de fribilar hahahas. Era muita coisa perdida, por se encontrar. Era muita coisa achada, por se perder.

Dar unidade á ideias dispersas era tão sacal quanto conversar com eles ou ouvir Lulu Santos. Era melhor assim, caos bonito, pensamentos jogados, confusão faxinada de si. Resolveu que ia comer dicionários para dar-lhe sustança pro mais a frente. Mas recordou que tinha de ir com calma, pois que se lhe sobrassem versinhos, pedantismo cruel podia parecer. Tomou por acatamento, retardar a refeição para mais além.

Nenhum comentário: