quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O pai da Flor, que arranhava de espinhos


Começou a se questionar. Qual seria o papel dele? Pensou. Complexificar as posturas éticas da infância na construção de uma formação solidificada no amor? Mais que isso. Flor acreditava no ser que mostrara a ela todas as possibilidades positivas que a palavra caráter podia oferecer. Personificação da honestidade. Até demais, acreditava. Exemplo, espelho, lugar. Batia na porta e com medo_receio de entrar, pensava a cada vez, como tudo passava tão rápido. Nos papiros inconscientes dos vexames escolares, era nele que ela pensava. Apoio, base, colo pra chorar. Carões de sobra. Tinha. Carrancudão, e ela lerda, mal percebia as covinhas do rosto sendo aviltadas pelas pás do Senhor Tempo. Era homem_trabalho. Demasiado, condição. A pele chega era escurecida_avermelhada pelo sol em excesso. Falta de instrução sobre o fator 15, no mínimo.

Era só aquele olhar bruto terno de reprovação ou expressão de carinho que o tornava mais real. Cargueiro. Das contas, do lar, da gente dela. Se sufocava pra dar ar. Plantava, não somente, e continuava a regar. As mãos calejadas, o rosto cansado. Não era mais como antes. O trabalho parecia lhe exigir demais. Como nos porres, em que já exausto daquela vida mesma pesar, vomitava no pé da cama. Talvez quisesse externar os males do mundo. Não ganhava na loteria. Nunca, apesar de sempre tentar. Só restava o serviço. E descansar de um com outro mais maneiro. Sem qualquer retribuição. Cada gesto soava forte. Equilíbrio.

Era permanente, acompanhamento, busca. O cuidar era a constante vigilância, mesmo sob os pesares do seu mal humor, perdoando os defeitos, as falhas diárias, os não-entendidos. Era o único homem que fazia do sofrer o maior pesar da humanidade, queimando no peito dele silencioso. Que encarava a água nos olhos dela, procurando resolver por atos ágeis os motivos que levaram às lágrimas. Era a preocupação que a chateava e escondia as verdades de um futurinho que ainda viria.

Por tudo isso, o amor - não exprimido por beijos ou abraços rotineiros não dados - só conseguia escorrer de manhã, no rápido “a bença pai”. Não conseguia demonstrações maiores. E chorava por isso.

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