sexta-feira, 8 de abril de 2011

Verdades tão repetidas


Gosto da minha classe social. Acho que se não andasse pelas bandas por que passo todo dia, não veria dores tão doces, vidas tão sensíveis, verdades tão repetidas. Tem toda aquela gente diferente e igual que passa e vai e vem todo dia, numa chuva miscigenada de olhares. Uns perdidos, outros atrasados. Outros ainda pedindo pra se cruzarem em felicidade. Sempre há destino certo. Não se acha mais ninguém sem rumo, perdido sem querer ou intencionalmente.

Têm aqueles que quebram rotinas de passantes e passageiros. Ou de fato, já são a própria rotina viva do transporte coletivo. Jovens, crianças, mães, velhinhos. Suplicam auxílio, remédios, trocados, oportunidades, consciências. Há quem venda, há quem peça, há quem pregue.

Num desses dias corridos, em que se anda devagar com medo de parar de vez, foi que vi. Um par de olhinhos sorriam e quase esbarram em mim. Nas mãos, a caixinha de chicletes. O rostinho cansado de quem trabalha como se a vida já fosse responsabilidade, gargalhava e corria. A camisa esfarrapada vestia o corpinho franzino que balanceava, como quem dança, na brincadeira no meio do serviço. Segui a direção do sorriso e lá estava o outro minúsculo vendedor. Deviam ter uns oito anos de idade. Eram dez da noite, e os dois ali se desviando da labuta, e relembrando por alguns minutos que ainda são criança.

Era felicidade em cima daquelas perninhas finas. Era felicidade nas gaitadas que eles davam. Era um brincar puro e inocente. Houve quem notasse, houve quem não. E eles foram pulando de parada em parada, naquele terminal abatido, fatigado. Senti meus olhos querendo se alagar. Segurei. Meu ônibus já vinha. Os pequenos já tinham ido. E lá fui eu pra casa. E lá fui eu buscar assento. E lá fui eu vaguear por proposições da vida dos dois. Comprar uns chicletes da próxima vez não seria o suficiente. Há uma caixa repleta deles. Há um terminal repleto deles. Chorei incapacidade em casa.

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